A empresa contratada esclarece que "não existem fogos de artifício sem barulho e que fogos de cores também produzem ruídos". Conforme a empresa, "não há como impulsionar a carga luminosa para o alto e nem ativar a reação química sem uma explosão via pólvora".

A Aymoré afirma que todos os produtos usados nas apresentações de Natal da prefeitura têm o selo verde pet friendly e que o uso deles é liberado por lei.

Por meio de nota, a Fundação Cultural de Curitiba disse que o pregão buscou contratar fornecedor de fogos “pet friendly”, de baixo ruído, e que a exigência está no edital de contratação.

O edital não cita a necessidade de que os produtos sejam pet friendly, caracterizados pelas cores e baixo ruído. Ainda assim, o documento orienta quais modelos de fogos de artifício podem ser fornecidos pela empresa contratada.

No Parque Barigui, a personal trainer Patricia Nobre perdeu o próprio cachorro, que se assustou com os barulhos dos fogos utilizados pela administração municipal no encerramento de um dos eventos realizados no dia 2 de dezembro.

Ela conta que costuma passear à noite com os quatro pets, por ser mais vazio e tranquilo. Porém, naquela noite, os animais reagiram ao barulho dos fogos e se agitaram. 

Bárbara Giglio Pires, professora de Medicina Veterinária da Faculdade Anhanguera, explica que a audição apurada dos cães é um dos fatores que fazem com que eles sintam medo dos foguetes.

"Os cachorros ouvem significativamente mais do que os seres humanos, aproximadamente 6 vezes mais. Nesse sentido, eles exibem uma hipersensibilidade que resulta em desconforto e ansiedalém dos cães, outros animais também são afetados pelo barulho dos fogos. O medo pode gerar problemas para a saúde dos pets.

"O ruído produzido pelas explosões causa apreensão em todos os animais de estimação e, durante o susto, eles acabam liberando uma quantidade significativa de catecolaminas. Esse hormônio desencadeia uma série de modificações fisiológicas, como o aumento da frequência cardíaca e respiratória", afirma.

Além dos animais domésticos, outros bichos também são afetados pelos fogos de artifício com barulho.

Cutia fugiu do parque e tentou se abrigar em uma casa da região — Foto: Associação de Moradores do Jardim Botânico

Rogério Ribas Lange, professor de Universidade Federal do Paraná (UFPR), explica que outros bichos também são impactados, como os pássaros registrados pelos moradores do Jardim Botânico.

De acordo com ele, as aves são afetadas especialmente pelo barulho causado pelos fogos.

"Isto acontece principalmente com aves urbanas, que podem ser desalojadas de seus dormitórios. As aves saem dos seus poleiros dormitórios e voam erraticamente, podendo não encontrar locais seguros", explica.

Lei municipal proíbe fogos com estampido

Uma lei municipal sancionada em 2019 determina a proibição de qualquer tipo de fogo de artifício com "efeitos de tiro" e de alto impacto.

Em caso de uso, a legislação prevê a apreensão e destruição do material, além da aplicação de multas de R$ 400 a R$ 100 mil – de acordo com a gravidade da infração, relacionada à intensidade dos fogos, não interrupção ou reincidência.

Porém, a lei tem pontos cegos. Apesar de proibir o uso desse tipo de fogo de artifício, não restringe a venda.

O texto cita apenas a obrigação dos estabelecimentos comerciais de fogos de artifício e artefatos pirotécnicos a orientar os clientes quanto à proibição de uso de produtos de alto impacto ou com efeitos de tiro em Curitiba.

A Associação Brasileira de Pirotecnia (Assobrapi), que representa a indústria e os estabelecimentos do ramo, classifica cinco tipos de barulhos que podem ser causados por fogos de artifício, com base no engenheiro japonês Takeo Shimizu.

Disparo: causado pela propulsão do artefato em direção ao céu;

Abertura: ocorre devido à explosão do artefato no céu;

Estampido: abrangido pela lei municipal, também é chamado de "tiro". É o efeito sonoro normalmente causado por uma mistura química conhecida como "pólvora branca";

Zumbido: semelhante ao provocado pelas abelhas;

Apito: caracterizado por ser agudo e durar poucos segundos.

A lei de Curitiba não cita, nem abrange, nenhum outro ruído além do estampido. Não há também a definição de quantos decibéis caracterizam um "estampido".